sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Manifestantes defendem uso de células-tronco embrionárias em pesquisas




Da Agência Brasil




Portadores de deficiência física fazem manifestação em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo apoio às pesquisas com células-tronco embrionárias

Brasília - Portadores de doenças graves, como distrofia muscular, câncer e alzheimer fizeram hoje (29) um protesto em frente ao prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), na praça dos Três Poderes, para pedir que os 11 ministros da mais alta corte de justiça do país votem na próxima quarta-feira (5) a favor do uso de células-tronco embrionárias em pesquisas.

Vestidos com camisetas brancas e com lírios cor de laranja nas mãos, jovens como as irmãs Gabriela e Mariana, adultos como Luís Maurício e Patrícia e idosos como Carlos Patto soltaram uma dezena de balões brancos representando a esperança que têm de um dia voltar a viver sem problemas de saúde.

Luís Maurício Alves dos Santos, vítima de acidente de trânsito e membro do Fórum de Apoio às Pessoas com Deficiência, segurava um abaixo-assinado que o movimento irá entregar aos ministros para pedir a liberação das pesquisas com células-tronco de embriões. Na próxima quarta-feira (5), o STF inicia a votação da Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) 3.510 proposta pelo ex-procurador geral da República Cláudio Fonteles que pede a exclusão do artigo 5º da Lei de Biossegurança (Lei 11.105/05), que prevê o uso dessas células. Santos acredita que os ministros vão votar contra a Adin.

"Passou pelo Congresso, pelo Senado com 96% de aprovação dos senadores e 85% dos deputados e o presidente Lula [Luiz Inácio Lula da Silva] sancionou a lei, o que é positivo. Infelizmente tem a questão religiosa, essa divulgação errada que considera o embrião um ser vivo, como se as pessoas vivas não tivessem também direito à sua própria vida", afirma.

O coronel da Força Aérea Brasileira aposentado Carlos Anibal Pyles Patto, presidente da Associação Parkinson Brasília, diz que gostaria de perguntar aos ministros do STF o que eles pretendem fazer com as células-tronco embrionárias que já estão armazenadas em laboratórios do país mas não vão mais ser utilizadas para fins de reprodução humana.

"Porque mais cedo ou mais tarde elas [as células] vão ser destruídas, e se vão ser destruídas por que não utilizá-las? Essa pergunta é que eu não consigo resposta", afirma.

Segundo ele, a Igreja Católica faz questão de impedir o uso dessas células, no entanto, trouxe como tema da campanha da fraternidade deste ano a questão da vida. "Mas ela [a Igreja] está indo contra a vida de uma porção de pessoas que têm Parkinson, alzheimer e várias outras doenças".

A funcionária pública Patrícia Almeida já teve dois tumores cancerígenos de origem genética, de tireóide e de mama. Ela - que viu a mãe morrer por causa de câncer - espera que as pesquisas com células-tronco embrionárias tragam esperança para os mais novos.

"Eu acho que é uma questão de bom senso porque você ainda não tem uma função vital antes do embrião ser instalado dentro do útero, ali é só uma possibilidade de vida. E você vai trocar isso pela vida de pessoas que já estão aqui, e estão tendo doenças degenerativas e morrendo? Então vamos dar esperança a essas pessoas, vamos avançar com a ciência e não andar para trás", defende.

Uma família inteira também estava à porta do STF pedindo que as pesquisas com células-tronco embrionárias não sejam proibidas. Trata-se da família das irmãs Gabriela e Mariana Veloso, ambas com distrofia muscular de cintura.

Gabriela, 32 anos, gestora pública, tentou aos seis anos fazer uma aula de balé e não conseguiu. Era o início de uma doença que a deixaria paraplégica aos 27 anos. "Eu acredito muito no discernimento dos nossos julgadores, dos ministros, e sobretudo eu acredito em Deus. Em vários casos são pessoas que têm doenças muito graves, letais, e essas pessoas têm pressa. Essas pesquisas representam a única esperança, o resto é paliativo", diz.

Mariana, 30 anos, publicitária, descobriu que tinha o mesmo problema da irmã quando tinha sete anos e perdeu a força dos músculos. Para ela, a aprovação do uso de células-tronco de embriões significa esperança. "Para todo mundo que precisa, não só para as pessoas que têm distrofia muscular, mas para quem tem diabetes, alzheimer...a gente está lidando com o tempo de vida dessas pessoas."

Hoje (29), no Rio de Janeiro, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, defendeu a aprovação de pesquisas com células-tronco embrionárias. Para Temporão, a liberação dos estudos colocará o Brasil "em pé de igualdade" com os centros de pesquisas mais avançados do mundo.